quarta-feira, 24 de julho de 2013

Explicação de coisa boa

Beijo bom
é aquele que foi bom
e se quer de novo

Abraço bom
é aquele sem espaço
entre um e outro

A pior maneira
de se entender carinho
é pensando

sexta-feira, 12 de julho de 2013

Eu quero ser gente!




 Esse Vídeo tá rolando no facebook a alguns dias, e eu resisti em assisti-lo. Hj não aguentei a curiosidade e acabei vendo. É meio fofinho, uma menininha branca, linda por sinal, com seu cabelo liso caindo no rosto, falando chorosa, trocando o R pelo L, que quer ser negra.
 Há uma comoção com a cena e as pessoas compartilham orgulhosamente, e quase com orgulho da Maria, que nem conhecem, pois ela supostamente conseguiu desde cedo vencer as barreiras do preconceito. As pessoas se comovem tanto com a Maria dizendo que quer ser negra pois a pele negra é bonita, que nem percebem que ela quer ser uma negra de cabelos loiros. (Guardem essa observação)
  O nome do vídeo salienta essa comoção com a "vitória do bem contra o mal". "Um tapa na cara do preconceito" parece querer dizer que o racismo foi humilhado diante da tolerância e da inocência dessa criança. E que todos devemos seguir esse exemplo pois essa sim é a maneira de mostrar pros porcos racistas que somos boas pessoas e queremos viver em paz e amor com todos independente da cor da pele.
  Aqui preciso de uma pausa para fazer uma explicação. Não compartilho com a teoria que alguns pregam de que o preconceito e o racismo acabou, que isso tudo não passa de luta vazia e que todos são tratados como iguais independente da cor da pele. Eu acredito que existe racismo sim, que o preconceito está presente no dia a dias das pessoas negras e que lhes causa sofrimento. E sim, que deve ser combatido até que um dia, que infelizmente não acredito que seja por muito cedo, realmente não exista mais.
Explicação feita, posso continuar. Fico imaginando qual seria a reação se uma menininha negra, também linda como a Maria, talvez de nome Marta, com seus cabelos crespos e sua língua presa a fazendo trocar o R pelo L aparecesse num vídeo anunciando chorosa: “Eu quelo ser blanca!!!”. Consigo visualizar os comentários a baixo das postagens: “Que absurdo, isso é o que a mídia faz com nossas crianças.”, “a rede Globo só coloca os negros em papeis secundários, dá nisso.”, “Num pais onde a maioria é negra ainda temos que presenciar cena lamentáveis como essa.” E muitos outros. Não! Ninguém acharia fofinho, ninguém elogiaria. Alguns menos sensatos culparia a criança pelo seu auto- preconceito precoce, mas a maioria, com certeza, vitimizaria  a pobre Martinha por estar sendo criada numa sociedade racista, numa família despreparada e diante de uma mídia alienante.  
Aqui entra a observação que eu pedi para guardar lá no segundo paragrafo. A Maria quer ser negra com os cabelos loiros. Não como a Lúcia, que é sua baba, ou a sua chará Maria que trabalha na cantina da escola. A Maria quer ser negra com cabelos loiros, como a Beyonce, como a Naomi, como a Tais.  A  Maria, assim como nossa imaginária Marta, é fruto da mesma mídia massificante e alienante. Ela assiste as mesmas novelas, ela brinca com as mesmas barbies e ela vê os mesmos desenhos animados. Quando a mamãe vai no salão tanto Maria quanto Marta folheiam a mesma Caras mostrando as mesmas bundas. (Pequena observação que pode parecer contraditório com o resto do paragrafo: Na verdade, se você prestar bem atenção o querer ser negra de Maria tem um motivo simples: ela acha a pele negra bonita, e isso pode não ter nada haver com a mídia também.)
Mas esse texto não é sobre a podridão da mídia. Mas sobre a falta de reflexão e o maniqueísmo burro (desculpem os amigos que postaram o vídeo, mas eu realmente acho isso) que aprendemos e que nos desvia o olhar. Que faz com que olhemos para o racismo, ou qualquer outro preconceito, como se fosse um demônio que se enfraquece com vídeo bonitinhos e frases de protesto quase vazias. Não é elogiando Maria dizendo que quer ser negra, nem criticando Marta que quer ser branca, que se combate o racismo.

A mãe até tentou convencer Maria que ela é linda sendo branca, mas ela não podia se conformar com sua deficiência de melanina, e como não somos ensinados a suportar um choro de criança a mãe acabou cedendo ao desejo e prometeu uma tinta para deixa-la negra. Não, não precisamos pintar brancos de negros para acabar com o preconceito. Precisamos manter os brancos, brancos, os negros, negros , os índios, índios e os Japoneses, de olhos puxados. E precisamos ensinar que não é isso que importa. Precisamos de mãos diferentes dadas, não de mãos iguais separadas. Precisamos menos de dias da consciência negra, que pra mim tem um papel de colocar as diferenças a tona, e mais de dias da consciência Humana para mostrar o quanto somos iguais, e lindos nas nossas imperfeições.