quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

Conhecimento popular


É isso ai meinha gente
Já vou começar a trovar
Pois não tô muito inspirado
pra em prosa começar

Meu pai andou cobrando
Que eu tenho que postar
quando disse não ter assunto
ele sugeriu não plagiar
mas colocar um de Drummond
O que me fez inspirar

de Drummond não vou postar
porque mesmo apesar
de considerar muito bom
vou muito me distanciar
do que acho que é meu
de tudo que quero falar

me veio então um nome
de um poeta que mesmo que você não conheça
eu vou aqui escrever
do Assaré ele é chamado
Patativa vai dizer:

AOS POETAS CLASSÍCOS

Poetas niversitário,
Poetas de Cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia;
Se a gente canta o que pensa,
Eu quero pedir licença,
Pois mesmo sem português
Neste livrinho apresento
O prazê e o sofrimento
De um poeta camponês.

Eu nasci aqui no mato,
Vivi sempre a trabaiá,
Neste meu pobre recato,
Eu não pude estudá.
No verdô de minha idade,
Só tive a felicidade
De dá um pequeno insaio
In dois livro do iscritô,
O famoso professô
Filisberto de Carvaio.

No premêro livro havia
Belas figuras na capa,
E no começo se lia:
A pá — O dedo do Papa,
Papa, pia, dedo, dado,
Pua, o pote de melado,
Dá-me o dado, a fera é má
E tantas coisa bonita,
Qui o meu coração parpita
Quando eu pego a rescordá.

Foi os livro de valô
Mais maió que vi no mundo,
Apenas daquele autô
Li o premêro e o segundo;
Mas, porém, esta leitura,
Me tirô da treva escura,
Mostrando o caminho certo,
Bastante me protegeu;
Eu juro que Jesus deu
Sarvação a Filisberto.

Depois que os dois livro eu li,
Fiquei me sintindo bem,
E ôtras coisinha aprendi
Sem tê lição de ninguém.
Na minha pobre linguage,
A minha lira servage
Canto o que minha arma sente
E o meu coração incerra,
As coisa de minha terra
E a vida de minha gente.

Poeta niversitaro,
Poeta de cademia,
De rico vocabularo
Cheio de mitologia,
Tarvez este meu livrinho
Não vá recebê carinho,
Nem lugio e nem istima,
Mas garanto sê fié
E não istruí papé
Com poesia sem rima.

Cheio de rima e sintindo
Quero iscrevê meu volume,
Pra não ficá parecido
Com a fulô sem perfume;
A poesia sem rima,
Bastante me disanima
E alegria não me dá;
Não tem sabô a leitura,
Parece uma noite iscura
Sem istrela e sem luá.

Se um dotô me perguntá
Se o verso sem rima presta,
Calado eu não vou ficá,
A minha resposta é esta:
— Sem a rima, a poesia
Perde arguma simpatia
E uma parte do primô;
Não merece munta parma,
É como o corpo sem arma
E o coração sem amô.

Meu caro amigo poeta,
Qui faz poesia branca,
Não me chame de pateta
Por esta opinião franca.
Nasci entre a natureza,
Sempre adorando as beleza
Das obra do Criadô,
Uvindo o vento na serva
E vendo no campo a reva
Pintadinha de fulô.

Sou um caboco rocêro,
Sem letra e sem istrução;
O meu verso tem o chêro
Da poêra do sertão;
Vivo nesta solidade
Bem destante da cidade
Onde a ciença guverna.
Tudo meu é naturá,
Não sou capaz de gostá
Da poesia moderna.

Dêste jeito Deus me quis
E assim eu me sinto bem;
Me considero feliz
Sem nunca invejá quem tem
Profundo conhecimento.
Ou ligêro como o vento
Ou divagá como a lêsma,
Tudo sofre a mesma prova,
Vai batê na fria cova;
Esta vida é sempre a mesma.

(Patativa do Assaré)


Antes que alguém conteste, vou logo explicando que acho Drummond muito bom, e que não concordo com Patativa quando ele fala dos versos brancos, mas acredito que o principal desse poema é mostrar que não existe conhecimento melhor que o outro. Que a academia nos proporciona informações valiosas mais que o conhecimento popular pode ser muito grande mesmo sem nenhum polimento erudito, por assim dizer.

2 comentários:

  1. Já que começou a trovar
    vou assim lhe responder
    e convido a quem mais quizer
    é só rimar pra aprender
    regras aqui não vou seguir
    pro recado fazer entender.

    Com meu avô e meu pai
    aprendemos a valorizar
    a cultura popular
    sem a Drummond desprezar.

    Só tinha ouvido falar
    de Patativa de Assaré
    sua obra não conhecia
    mas gostei e boto fé
    que professor ou doutor
    tem que aplaudir de pé.

    Não irei me estender
    pois o blog não é meu
    estou bastante orgulhosa
    desse irmão que Deus me deu
    que está escrevendo bem
    da forma que prometeu!

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  2. Drummond x Patativa

    A coisa tornou-se eclética
    E eu preciso falar
    Se Drummond recomendei
    Assuntos não vão faltar
    Pois até pedra ele colocou
    No caminho pra passar

    Já Patativa falou
    “Cante lá que eu canto cá”
    Escreveu coisas tão belas
    Das plagas do Ceará
    Que não sei qual desses dois
    Eu quero homenagear.

    Desta forma eu começo
    Para enaltecer os dois
    Cada um com seus botões
    Em diferentes lugares
    Cantavam coisas diversas
    Que não dá para comparar

    Drummond mineiro calado
    Peralta muito escreveu
    Foi expulso do colégio
    Por atos que cometeu
    Já Patativa não teve
    Escola pra freqüentar
    Ali não tinha colégio
    Nem professor para ensinar

    Tomou sua resolução
    E disse vou aprender
    Quero ser bom cantador
    Das coisas que vi nascer
    Contar historias tão belas
    Dos antepassados meus
    Que quando meus netos lerem
    Orgulho deles vão ter

    Com a resolução tomada
    Foi pras bandas do Pará
    Levando por um parente
    Que queria vê-lo cantar
    Por lá ficou cinco meses
    Trovando e contando causos
    De motes que lhes pediam
    Na forma de improvisar.



    Era bom até demais
    Na arte da improvisação
    Só precisava do mote
    Pra ter a inspiração
    Falava de tudo e de todos
    Dos causos do seu sertão
    Dos cactos, das plantas nativas
    Que serviam de mezinha
    Pro povo do seu torrão.

    Vamos ficando por aqui
    Pois só de Patativa falo
    Esquecendo de Drummond
    Que foi um monstro sagrado
    Na poesia moderna
    Deixou tudo registrado.

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